Hoje, pelas 14:32, na sala de partos 6 da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, nasceu o António. Com 3.420 Kg e muito cabelo, é sem dúvida um dos bebés mais lindos que alguma vez vi. E não digo isto apenas por ser pai, consigo aliás ser bastante imparcial nestes assuntos - como, por exemplo, no futebol.
Acordei às 6:43 com a Susana a dizer "acho que já é hora" ao que respondi que ainda faltavam umas horas até o despertador tocar. Quando ela repetiu, percebi que se tratava da hora de ser pai. Lá fomos nós até à maternidade, confiantes que seria desta vez que ela ia nascer - as outras foram falsos alarmes; pode dizer-se até partus interruptus - e pelas 8:00 lá entrou a Susana para as urgências. Por volta das 10:00 chamaram-me, entrei, fiquei 15 segundos no quarto e mandaram-me embora porque ia ser dada a epidural. Uma hora depois, voltei a ser chamado para a sala de partos, apenas para saber que a anestesista tinha sido chamada para uma cesariana e que afinal era agora que ia dar a epidural.
Voltei a ser escorraçado do quarto, mas não antes de ver uma Susana agonizada pelas dores provocadas pelas contracções. Na tentativa de as aliviar, fiz massagens na lombar e nos pés, enquanto chamava a atenção para a respiração. Valente, e a sofrer, ela aguentou até chegar a anestesista. Saí. Mais uma data de tempo à espera. Regressei ao quarto e encontrei outra Susana. Vamos lá ver, era a mesma Susana, mas completamente descontraída, a epidural estava a resultar na perfeição e a ela só faltava um cocktail na mão para completar o quadro da jovem-esbelta-delicia-se-com-a-sua-bebida-no-puff-da-praia.
As horas foram passando, a dilatação - que estava nos 3 cm antes da epidural - processava-se a um bom ritmo, graças à ocitocina administrada pelo soro - até parece que percebo destas coisas, não é? - e pelas 13:45 já se encontrava nos 8 cm. Foi por volta dessa hora que as coisas começaram a complicar-se.
Subitamente, as contracções já não eram registadas pelo tocograma. A enfermeira ajustou os eléctrodos, mas não as conseguia apanhar. E por essa altura, o ritmo cardíaco do bebé começou a desacelerar. Para ter uma ideia, o ritmo andava entre os 120 e os 150, e agora situava-se abaixo dos 100 e a baixar. Quando alcançou os 60, a enfermeira chamou os médicos e decidiu-se que o grau de dilatação era completo, e que se iria proceder à extracção do bebé, vulgo parir. Convém referir que pelas 13:00 a Susana levou uma segunda dose do que quer que seja que vai na epidural, e que ultimamente isso fez com que não tivesse muita noção da parte inferior do corpo. Basicamente, não sabia onde fazer força.
Os médicos, desesperados - vá, preocupados... - com o ritmo cardíaco do bebé, foram obrigados a usar fórceps para puxar o bebé para fora; acontece que este procedimento obriga, aparentemente, à saída do pai. Portanto, não assisti à chegada do António, que veio ao mundo num parto algo complicado. A Susana teve de levar pontos, assim como uma pequena cirurgia de reconstituição. Só a veria passado uma hora e meia.
Assim que o António nasceu, foi levado para um quarto especial onde foi aspirado, pesado e sujeito a uns testes para determinar o estado do recém-nascido, classificação intitulada de Índice de Apgar. Desta feita, pude estar presente e depois de terem terminado todos os procedimentos fiquei uma hora a contemplar, embevecido, o meu primeiro filho. O meu filho varão. O António.
Vieram-me as lágrimas aos olhos.
Uma hora disto, e o quarto aquecido e claustrofóbico que, suponho, seja um meio termo entre o ventre da mãe e o mundo real, começou a fazer-me mal. Saí por uns momentos, e quando voltei pude rever a minha mulher e o meu filho, finalmente juntos. Amor à primeira vista.